sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ensinando a Aprender


Aprendendo com Chico Lucas Todo conhecimento tem a sua importância, nasce e se mantém em determinadas condições e contextos. Convivendo lado a lado com a ciência, outras sabedorias como a filosofia, a arte e os saberes da tradição dão sentido ao mundo e à vida. Há várias formas, portanto, de compreender porque as coisas são como são. Grande parte da população do planeta orienta suas práticas de vida por explicações que têm por base o contato íntimo com a natureza. Compreender a importância dos conhecimentos tradicionais no mundo contemporâneo é celebrar o respeito à diversidade de saberes. É se posicionar contra a pilhagem de sabedorias centenárias. Nossa aprendizagem dos conhecimentos da tradição teve destaque em nossas teses de doutoramento junto ao Programa de Pós- graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em nossos trabalhos científicos, tivemos como grande intelectual, motivador e inspirador o pescador-agricultor Francisco Lucas da Silva, ou simplesmente Chico Lucas como costuma ser chamado, morador da comunidade de Areia Branca às margens da Lagoa do Piató (Assu-RN). As orientações acadêmicas do doutorado, sob a responsabilidade da Profa. Dra. Maria da Conceição de Almeida, ganharam outras proporções a partir do convívio com Chico Lucas durante nossas estadias na Lagoa do Piató. O conhecimento de domínios como ecologia, pesca e leituras dos fenômenos físicos fizeram de Chico Lucas também nosso orientador, consolidando a parceria entre conhecimento científico e saberes da tradição, tão cara a algumas pesquisas do Grupo de Estudos da Complexidade -GRECOM. Por meio dos ensinamentos de Chico aprendemos que, ao mergulhar na lagoa e ouvir o ronco dos peixes, é possível saber qual espécie habita o ambiente. Aprendemos que a jurema (planta típica da caatinga) tanto serve para fazer remédio como para fazer cercas. Aprendemos a diferença entre uma carnaúba macho e uma carnaúba fêmea. Tivemos o privilégio de escutar Chico Lucas falar longamente sobre as previsões de inverno a partir dos sinais emitidos pela curimatã, pelas formigas ou pelo juazeiro. Aprendemos que 'conversar' com as pedras e ouvir o vento ajuda, muitas vezes, a amenizar as dores da alma. Esses saberes que aprendemos não só a respeitar, mas também a admirar, se valem de diferentes elementos do meio. Transitam por diferentes domínios - físicos, biológicos e culturais - para construir um conhecimento ecossistêmico. Fazem uso de analogias preciosas que permitem aproximar experiências em campos tão distintos. Nas longas caminhadas na mata, nos passeios de barco e nas cansativas, mas prazerosas, pescarias aprendemos, ao vivo, um dos princípios mais caros ao pensamento complexo: a religação da natureza com a cultura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário