Leitura da vegetação
Catingueira - Quando a catingueira está esperando um bom inverno, ela chora uma resina do
caule dela mesmo.
Palmatória - Quando o ano é mau de inverno, você chega num partido (área delimitada de
plantio) de palmatória e dificilmente vê uma fruta.
Baobá - A folha do baobá tem cinco pontas que representam as cinco chagas de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Segundo os historiadores, é a árvore de sofrimento, até porque a região nativa
dela é o deserto do Saara. Ela captura água para as pessoas que andam no deserto morrendo de sede.
Eles furam um buraco no tronco dela e aquele buraco forma uma bacia, e aquela bacia enche d'água
como se fosse água mineral. Por isso é que a chamam de árvore sagrada.
Categorias de plantas - As categorias de plantas são agrupadas conforme o tipo de ambiente
em que vivem. Na caatinga tem mais a jurema, a catingueira, o pereiro. Na chapada, você encontra
mais o marmeleiro, o mufumbo, a catingueira, a catanduva, a aroeira.
Juazeiro, Pereiro, Cumaru - São plantas que se revestem na caatinga sem receber água,
porque a natureza oferece um ciclo de oxigênio para elas se revestirem, para quando chegar a chuva
elas estarem prontas para vaguear, para produzir a sua semente. O problema é que o homem faz a
devastação e a terra fica totalmente raleada, queimada. Isso faz com que a outra planta que iria se
reproduzir, como o juazeiro, o pereiro, o cumaru, essas plantas que se revestem antes do inverno
pegar, morram. Estão morrendo porque o solo está desprotegido e elas estão recebendo muita
quentura no caule e não dá para reagir. Acredito que essas plantas que se revestem fornecem um
tipo de gás que contribui para as nuvens e para a atmosfera da Terra.
Carnaúba - Os pés de carnaúba macho e fêmea são diferentes entre si, dada uma certa
característica: o tronco da fêmea tem suas frestas viradas para a esquerda, enquanto no macho elas
são viradas para a direita. Elas se reproduzem principalmente por estarem muito próximas. O vento,
os pássaros e as abelhas também ajudam, fazem a fecundação. Quando ela nasce, forma o caule para
cima. Às vezes, por causa da erosão e da enchente da lagoa, a raiz apodrece dentro d'água, ela arreia,
mas não morre. Ela procura se defender, ela quer viver! Ela está torta daquele jeito, mas procura
sempre a linha do Sol!
Cana-de-açúcar - Nós temos aqui na nossa região a nossa cana-de-açúcar. Como nosso solo
do agreste é muito fértil, não usamos muito adubo, nem tampouco agrotóxico. As pragas não
gostam da folha da cana. Ela é uma planta altamente rica em açúcar, mas a folha dela é sugada, não
tem nutriente até para o próprio inseto. É riquíssima! Da cana-de-açúcar você faz o mel, o açúcar e
a rapadura.
Feijão Macaca - Macaca é um nome indígena. O índio encontrou a semente dele na mata e
deu o nome de macaca. Contam que foi porque ele foi caçar e não matou nenhuma caça. Encontrou
aquele pé-de-feijão bem vargeado, apanhou aquelas vagens de feijão, chegou em casa, debulhou e
botou no fogo. Quando foi na hora do almoço, só tinha aquele feijão. Aí a mulher disse: "Fulano,
venha comer! A má caça já está pronta!". Porque ele não encontrou uma caça de verdade.
Vive-morre - É uma planta que é e não é tóxica. Ela não é tóxica para o gado que está
acostumado com ela e sim para o animal que não está acostumado. O animal da região come ela e
não tem nada. Mas na várzea não tem esse mato, então os animas de lá que chegam onde tem a
planta, um cavalo, por exemplo, ele passa a noite pastando dentro do cercado. Se a gente botar a
sela e for viajar, campear é sujeito a ele ter um ataque cardíaco e morrer na hora. Ele não está
acostumado. A planta é tóxica, aí ataca o coração dele e ele morre na hora. Agora, os animais da
região, não. Já estão acostumados.
Floração e chuva - Têm várias plantas, umas floram para chover e outras floram após o
inverno. É preciso você prestar atenção a essas mudanças. O pereiro florou, eu já estou sabendo que
é um bom inverno. A jurema florou após o inverno, já estou sabendo que o inverno acabou. Quer
dizer, a jurema me disse que ela florou hoje e que agora avante é verão, não vai chover.
Jaramataia - Quando a jaramataia nasce no mangue de água doce, isso me diz que é para a
croa não se decompor, pois ela entrelaça toda essa croa de raiz. Esse intrelaço das raízes acontece
na vertical do baixio. Parece que ela já nasce com o intuito de ajudar, de conservar a própria
natureza. A semente dela só nasce em baixio de enchente. Ela não nasce no molhado do tabuleiro,
ou seja, só nasce no molhado em que outra semente apodrece. Quer dizer, ela precisa do baixio bem
molhado para ela fermentar e nascer.
Espinheiro-de-bode - Espinheiro-de-bode por quê? Porque ele tem uma vagem que quando
abre solta uma semente, e o bode vem e come. A casca dele serve para tinturação, porque dá uma
gosma muito forte que antigamente era usada na tinturação da linha de algodão, usada pra fazer
rede, para não apodrecer.
Espinheiro-de-bode, Juazeiro, Trapiá e Feijão-bravo - São vegetações que enramam
sem chover. Quando o inverno chegar, como a vagem é dura, a natureza se encarrega de
molhar a vagem para ela abrir e soltara semente.
Feijão-bravo - Quando o feijão-bravo macheia a carga, o ano é mau. Quando o feijão-bravo
segura a carga dele 100% é um ano bom de inverno.
Macambira - Ela tem duas utilidades: na comida, serve de ração para o gado e para o ser
humano. Tira-se o miolo da cabeça da macambira, bota para secar, faz a farinha e a goma do beiju.
A outra utilidade é a corda da macambira, que é uma imbira mais fraca que a do agave. Os índios
usavam para várias coisas, para fazer esteiras, cobertores e para cobrir a casa.
Juazeiro - No final do ano, se ao meio-dia garoar, é claro e evidente que o inverno está próximo.
Quando ele está bem enramado, por volta de dezembro e a gente chega na sombra dele de doze
horas do dia, a gente sente que ele está garoando. É sinal de bom inverno. Agora, o juazeiro não
está mais enramando em dezembro, por quê? Por conta da mudança climática que houve. O lençol
freático não está contribuindo para que a raiz dele capture aquela água.
Piquiá - É uma madeira naval. Ela não é uma madeira de construção de casa, porque pela
temperatura ela quer água. Sem a água ela empena, e dentro d'água ela não apodrece, ela tem
durabilidade.
Pereiro - É muito sensível aos anos secos. Ele só toma carga num ano bom de inverno,
quando solta muita semente. A semente do pereiro tem um algodãozinho, uma pluma que o vento
leva a distância. É por isso que aqui no nosso terreno a mata nativa tem muito pereiro. É uma árvore
que demora muito a fornecer madeira para construção. A estaca demora 50 anos para chegar à
espessura de 1 litro, num diâmetro de 10 cm.
Jurema - É uma árvore que suporta a seca e, com um ano bom de inverno, ela reage. Com
cinco ou seis anos você corta um partido de jurema, e com mais cinco ou seis anos aquele cipó que
ficou dá madeira novamente. É a madeira mais procurada aqui na nossa região por ser a mais rápida
no crescimento.
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